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Dez embaixadores da música portuguesa da década

Dez embaixadores da música portuguesa da década

Mais um balanço deste decénio, este focado nos nossos fura-fronteiras.

Portugal não exporta só vinho ou calçado. Nestes dez anos, foram vários os embaixadores da música nacional. Escolhemos dez nomes (nove de músicos e um de género), não só pela agenda ao vivo internacional, como por outras formas de reconhecimento, como prémios e condecorações de lá fora, destaques de imprensa, presenças em programas de TV de fama mundial ou até, num caso, bandas sonoras de filmes de Hollywood.

Salvador Sobral
Portugal é mais conhecido pelo fado, mas veio do jazz nacional o expoente máximo internacional da nossa música, em 2017. É de Salvador Sobral, através da balada singela 'Amar pelos Dois', a vitória do Festival da Eurovisão por que Portugal tanto lutava há tantas décadas. A visibilidade mundial de Salvador Sobral facilitou o encontro com um dos seus ídolos, Caetano Veloso, numa relação que se consumou no dueto entre os dois em 'Amar pelos Dois', que o mundo pôde ver em direto no Festival da Eurovisão de 2018, em Lisboa. Em Espanha, onde já viveu, é adorado.

É bom não esquecer que a autora de 'Amar pelos Dois' é a irmã Luísa Sobral, que tem também a sua carreira internacional, tendo-se tornado em 2012 na terceira figura portuguesa a ter atuado no célebre programa da BBC, "Later with Jools Holland".

 

Ana Moura
Tal como Luísa Sobral, também Ana Moura brilhou no "Later with Jools Holland", em 2013, o que não surpreende atendendo à tarimba internacional acumulada no início da década. Amiga e colaboradora de nomes como Prince e Mick Jagger dos Rolling Stones, não parou de viajar pelas salas e eventos à volta do mundo. Colocou o seu nome nos cartazes de acontecimentos de renome como o WOMAD ou o Festival de Jazz de Montreal. 

Foi merecendo um naipe diversificado de adjetivos elogiosos na imprensa internacional, como nos jornais ingleses The Guardian e The Sunday Times, e sobretudo em publicações norte-americanas, como o New York Times. Mas Ana Moura não aparece só em prosa, o seu nome foi também inscrito na tabela de world music da revista Billboard, onde alcançou o 7º lugar em 2010 através do álbum "Leva-me Aos Fados".    

Participou num álbum de tributo a Caetano Veloso para o qual contribuíram Beck e Devendra Banhart, e teve como um dos convidados do seu álbum de 2012 "Desfado" o histórico do jazz Herbie Hancock. Mas Ana Moura não se destacou apenas pela voz. A sua imagem mereceu uma sessão de fotos de Bryan Adams para a revista Vogue, onde também outras fadistas também mereceram o zoom da sua máquina fotográfica como Carminho, Gisela João, Cuca Roseta e Aldina Duarte.

 

Buraka Som Sistema
Tão frenética como a eletrónica dos Buraka, só a movimentação aérea do coletivo, que atuou em quatro dos cinco continentes e que conheceu os palcos dos grandes festivais europeus - Pukkelpop (na Bélgica) ou o Lowlands (na Holanda) - e até mesmo do Rock in Rio, no Brasil.

A internacionalização dos Buraka Som Sistema teve também outros sinais, como o uso de um sample de um dos seus temas, '(We Stay) Up All Night', para a música de Santigold, 'Big Mouth', ou a composição de uma música para um anúncio da Adidas da campanha do Mundial de Futebol no Brasil em 2014, onde participaram jogadores como Messi, Özil ou Cavani.

 

Mariza
Tal como os Buraka, a carreira de Mariza já vinha com embalo da década passada. Renovadas as garras, a fadista continuou a tratar o mundo por tu. Prémios não lhe faltaram, como o WOMEX em 2013 ou, nestes dias, o Songlines Music Award de Melhor Artista de World Music da Europa. Desde 2010, passou a fazer parte da elite de condecorados com a Ordem de Cavaleiro das Artes e Letras de França

No único Festival da Eurovisão alguma vez ocorrido em Portugal, em 2018, coube a Ana Moura e a Mariza as honras de abertura do evento, o que diz muito sobre a dimensão internacional da sua obra.

 

António Zambujo
Está cada vez mais enraizado no mercado brasileiro. Em sintonia com a música do país irmão, desde o MPB ao bossa nova, foram frequentes as suas idas ao maior país da América do Sul, onde atuou regularmente. Mereceu até um dueto com o ídolo Chico Buarque em ‘Joana Francesa’, no seu álbum de 2016, “Até Pensei que Fosse Minha”, que conta também com a participação da brasileira Roberta Sá.

 

Carminho
Juntamente com António Zambujo, Carminho é dos raros casos de sucesso português no Brasil. Esgota salas pelo país e é aclamada em artigos de jornais como O Globo. Nessa sedimentação da relação com o Brasil, dá mais um passo em 2014 quando canta um dueto com Marisa Monte em 'Chuva no Mar', no seu terceiro álbum, "Canto". Não seria a última vez. Depois de várias parcerias em palco, seria ladeada por Marisa Monte no álbum de tributo "Carminho Canta Tom Jobim", em que teve carta branca da família do fundador da bossa nova para interpretar o seu reportório. Nesse disco de 2016, teve o privilégio de ter a colaboração de mais duas lendas brasileiras: Maria Bethânia e Chico Buarque.

 

Dead Combo
Quando o chef Anthony Bourdain veio a Lisboa em 2012, ficou enfeitiçado pelo blues-rock à portuguesa dos Dead Combo. Todo o episódio do programa de TV "No Reservations" dedicado à capital portuguesa é sonorizado pela música da dupla de Pedro Gonçalves e de Tó Trips. Imagens ao vivo captadas pela equipa de Bourdain no Teatro Tivoli são salteadas ao longo desses 40 minutos, e há até uma entrevista de Bourdain à dupla numa ceia no Cais do Sodré que contou com a degustação de bom peixe de conserva. O impacto do programa teve reflexos na presença dos Dead Combo do top de álbuns do iTunes de world music, nos Estados Unidos.

Mais de dois anos depois, os Dead Combo voltam a ter outra ajuda americana, ao garantir duas das suas músicas, 'Rumbero' e 'Lisboa Mulata', na banda sonora do filme de Hollywood, "Focus", que tem Will Smith como protagonista.

 

Rodrigo Leão
A sua música em nome individual há muito que era uma banda sonora sem filme. Mas esse filme apareceu, e logo da Meca do Cinema, Hollywood: trata-se de "O Mordomo" ["The Butler"], realizado por Lee Daniels e contracenado por Forest Whitaker, Robin Williams e Oprah Winfrey. Depois de vários álbuns seus a abeirarem-se do universo cinematográfico, a ponto de intitular um dos seus discos como "Cinema", e várias contribuições em outras bandas sonoras, como "Lisbon Story" (como membro dos Madredeus), "La Cage Doreé", "O Frágil Som do Meu Motor", a série televisiva "Equador" e o documentário "Portugal, Um Retrato Social", Rodrigo Leão deu em 2013 um passo de gigante para a capital da grande indústria audiovisual que merecia continuidade.

 

Carlos do Carmo
É o mais veterano desta lista. A década em que se despediu dos palcos conheceu alguns momentos internacionais bastantes felizes para o cantor alfacinha. Um deles era uma luta com alguns anos e que pela qual se envolveu: a consagração do fado como Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 2011. O outro momento foi mais individualizado, quando ganhou em 2014 o Grammy Latino de carreira - o primeiro português a merecer esta distinção.

 

Cante Alentejano
Depois do fado, também o cante alentejano mereceu a declaração como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 2014, para grande contentamento de figuras da região como Vitorino e Janita Salomé. Foi o grande reconhecimento internacional da grande música coral da região alentejana.

 

Gonçalo Palma

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