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Mimi Froes: "cantar é a minha forma mais genuína de conversar"
Daryan Dornelles/Facebook Oficial Mimi Froes

Mimi Froes: "cantar é a minha forma mais genuína de conversar"

A cantora atua no festival Música no Parque a 21 de agosto, no mesmo dia em que tocam Os Quatro e Meia. O festival começa a 19 de agosto no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais.



Mimi Froes é um dos nomes do cartaz do festival Música no Parque que vai ocupar o Hipódromo Municipal Manuel Possolo, em Cascais, a partir do dia 19 de agosto. A inauguração do festival, que é inteiramente dedicado à música portuguesa, vai estar a cargo de Dino D'Santiago.

A cantora, que conta com o EP "Vamos Conversar" na bagagem e já está a arranjar espaço na mala para o disco oficial de estreia, vai atuar no dia 21 de agosto, na mesma noite em que tocam por lá Os Quatro e Meia. Xutos & Pontapés, Fernando Daniel, Deixem o Pimba em Paz, Carminho, Dino D'Santiago, Churky, Cláudia Pascoal, Filho da Mãe e Pedro Mafama são os restantes confirmados até ao momento.

Mimi Froes, de 22 anos e de uma sensibilidade comovente, conversou connosco sobre o concerto mas também sobre o percurso que resolveu trilhar enquanto cantora e compositora. Ainda bem que o caminho de Mimi é feito de pautas e engenho linguístico. A música e a língua portuguesa, que a jovem cantora enaltece com naturalidade e foco, agradecem. Nós, quem a ouve, também.

O caminho até aqui


Ainda frequentaste o curso de Direito mas, a meio do caminho, decidiste meter o foco apenas na música. Como é que chegaste à conclusão que afinal querias investir todo o teu tempo na música?


Os testes psicotécnicos "mandaram-me" para Direito com tanta certeza que pensei que o caminho seria por aí. Lembro-me que na altura alguém me disse que o gosto que eu tinha pela música era impossível de avaliar com aquele tipo de testes. Era impossível perceber a intensidade com que eu vivia a música. A pessoa que me disse isso tinha toda a razão, mas, ainda assim, frequentei o curso de Direito durante dois anos. Gostei muito. Foi muito interessante e importante para o meu caminho, sobretudo pelas pessoas que conheci, mas sentia falta da música. Isso levou-me a estudar Música e Direito ao mesmo tempo. Ainda consegui conciliar as duas áreas durante um ano mas, a dada altura, senti-me muito cansada. O curso de Direito é muito exigente e a música, da forma como eu a queria na minha vida, também exigia muito de mim. Foram os meus pais que, ao verem que estava muito cansada, me disseram para parar um ano. Sugeriram que parasse para tentar perceber se o meu caminho passaria apenas pela música. E foi precisamente nessa altura que me inscrevi no curso de escrita de canções da Luísa Sobral. A Luísa acabou por reforçar a decisão de apostar apenas na formação musical e agradeço-lhe imenso por isso. Foi ela que espoletou ainda mais o meu interesse pela música e sobretudo pelo gosto da composição de canções originais. A partir dessa altura meti o foco por inteiro na música e decidi ir estudar Jazz e Música Moderna para a Universidade Lusíada.  

 


A verdade é que quando te ouvimos sentimos que tens uma ligação muito natural com a música. Que lugar é que a música ocupa no teu crescimento?

A música ocupa um lugar muito grande. É assim desde sempre. Quando era pequena gostava muito de chamar a atenção e, assim que percebi que era afinada, decidi ir buscar a minha parte musical para captar a atenção dos outros. Comecei a cantar e a fazer concertos. Chegava a esconder-me atrás das cortinas para depois abri-las e dizer a quem estava assistir: 'vou cantar!'. Fazia muitos shows para os meus pais e "dava concertos" na escola. A minha relação com a música começou quando eu era muito pequenina. Sempre foi uma relação de proximidade. Aprendi a tocar guitarra aos oito anos e comecei a ter aulas de voz aos doze. Os meus pais ouviam música bastante atual. Ao contrário dos meus amigos que ouviam música mais antiga por causa dos pais, eu cresci a ouvir os hits de cada ano. É engraçado. Também oiço coisas antigas mas fui sentido o meu crescimento com as músicas que iam saindo em cada ano. Como me disse a Luísa Sobral, comecei a criar um ouvido muito pop, muito adequado à época que estava a viver. Vivia com música por todo o lado. Tinha o meu mp3 sempre cheio de música. Pensando bem, a música sempre foi o meu foco. O curso de Direito foi só um pequeno devaneio. (risos)

A playlist de Mimi Froes:
 


Prezas e preservas bastante a língua portuguesa na tua composição. É muito importante para ti...

É muito importante, sim. Quando comecei a compor, escrevi as primeiras três/quatro canções em inglês. Além de ser mais fácil de trabalhar, o inglês era a língua com a qual eu lidava mais a nível musical. No fundo era o que se ouvia mais nas rádios, embora ache que isso está a mudar um pouco e ainda bem. Tenho uma atração muito grande pela língua portuguesa. Ao longo do tempo, à medida que ia lendo mais, fui ganhando muito gosto pela nossa língua. Compor em português é algo que quero manter no futuro. Costumo dizer que quero levar ainda mais música portuguesa aos ouvidos dos portugueses. Digo "mais" porque já anda por aí rodar muita música portuguesa e ainda bem. Cantar em português é um dos meus focos. Gosto muito da língua, dos trocadilhos que possibilita, das nossas expressões que são muito bonitas. Sinto que a música cantada em português pode unir as pessoas. Acho maravilhoso andar pelo país a cantar e toda a gente conseguir perceber-me.  


Aprender a escrever canções com a Luísa Sobral:
 

 

Escreveste o tema 'Não Faz Mal Não Estar Bem' precisamente para uma aula da Luísa Sobral, certo? Qual é a história dessa canção?

A canção surgiu logo depois de eu ter falado com um produtor sobre o meu processo de composição. Na altura ele disse-me que o meu grande problema na escrita de canções era não ter letras mais específicas. Fiquei muito triste com esse feedback. Lembro-me que estava a tomar banho e a pensar: "estou triste, mas não faz mal. Não faz mal não estar bem'. (risos) Era o que estava a sentir. A partir dessa frase resolvi construir uma história. É uma frase que pode servir muitas histórias. Tem um determinado significado para mim e pode ter um significado diferente para cada pessoa.

O conselho da Luísa Sobral para a canção:

 


Mas fazes questão em contextualizar as tuas canções. Gostas de partilhar a tua versão da história de cada canção. Isso é muito bonito...

Sim. Cada pessoa poderá apreender a canção à sua maneira, mas eu gosto de partilhar o contexto de criação de cada canção. Se as pessoas quiserem, podem saber como é que cada canção nasceu. 

Canção 'Sonhar', uma história de empatia:

 


O teu EP chama-se "Vamos Conversar". Podem caber muitos temas numa conversa. Conversar sobre o quê?

Os temas que exponho no EP são conversas que fui tendo com várias pessoas. O tema 'Entre Namorados' foi uma conversa que tive com o meu namorado, por exemplo. Achei que era uma conversa que encaixava bem neste EP. A canção 'Sonhar' foi uma conversa que imaginei. Cantar é a minha forma mais crua, nua e genuína de conversar. Eu converso a cantar. O "vamos" é um verbo de começo. A capa do EP é um casulo por isso mesmo. É como se fosse um embrião. A ideia aponta para o início de uma conversa, para um "vamos conversar". É um convite: venham conversar comigo, venham ouvir as minhas canções. Juntos, vamos fazer deste EP um diálogo bonito. É algo muito honesto. 

Na descrição que te apresenta lê-se o seguinte: "estudante em busca da melhor canção". Onde é que imaginas que está a tua melhor canção?

A busca pela melhor canção faz parte da minha personalidade. Estou constantemente a escrever, a riscar e a reescrever. Acho que essa descrição tem a ver com isso, com o facto de não parar. Estive a gravar o meu disco, que vai sair ainda este ano, e houve uma música que só fechei no estúdio. Cinco minutos antes de gravar ainda mudei duas ou três palavras. Tenho a constante necessidade de explorar as potencialidades da criação ao máximo. Acho que uma canção tem sempre algo mais para dar. Não é a procura incessante da perfeição, porque acho que a perfeição não existe e ainda bem, mas procuro servir a canção da melhor maneira possível. A "melhor canção" é nesse sentido. É servir a canção no seu expoente máximo. Há autores que fazem isso lindamente. Por alguma razão inscrevi-me no curso da Luísa Sobral e também frequentei um curso de escrita de canções do Carlos Tê. Acho que são dois autores com essa noção. Quis saber como é que eles encontravam o caminho mais certeiro para aquela canção. É como se a canção competisse consigo mesma, como se estivesse à procura do seu melhor.   

E o que é que podes contar sobre o novo disco?

Sinto que há uma evolução em relação ao EP - algo que eu estava à procura. Sinto que o novo disco vai chegar com algum crescimento. É de uma Mimi que estuda música e quer arriscar. Pode correr bem, assim o espero. As letras seguem a mesma profundidade do anterior mas são mais autobiográficas. Antes tinha muito medo de escrever sobre mim. Este álbum tem mais canções sobre as minhas vivências, o que também pode ser um pouco assustador. É uma sensação agridoce. Sinto-me nua mas, ao mesmo tempo, sinto-me exposta de uma forma positiva, no sentido em que estou pronta para estar exposta. Acho que vai ser um desafio interessante. As pessoas vão conhecer-me um pouco melhor, como artista e como pessoa. Estou com muita vontade de ver o novo álbum cá fora.  

E as expectativas para o concerto no festival Música no Parque, em Cascais? Como é que te sentes? Sei que ficaste muito feliz por partilhares o dia com Os Quatro e Meia…

Foi uma honra. Foi mesmo uma honra. Quando o meu agente me deu a notícia até pensei que estivesse a gozar comigo. Achei genuinamente que ele estava a brincar comigo. Depois lembrei-me que é um homem sério e que não estava a brincar. (risos) Senti-me dentro de um sonho. O sonho de finalmente levar as minhas canções para o palco. Lancei o EP no ano passado e estou doida para experimentar os temas ao vivo e perceber o que é que as pessoas sentiram com este meu trabalho. Quero muito ver as reações, embora saiba que a maior parte das pessoas vai lá estar para ver Os Quatro e Meia.

"Mãe, vou abrir para Os Quatro e Meia!":
 


 

E o que é que podes contar sobre a tua atuação?

Vou tocar temas do meu EP. Quero muito levar o "Vamos Conversar" para cima do palco. Também vou mostrar alguns originais do novo disco. Estou muito ansiosa para saber como é que essas canções vão ser recebidas. Estou nervosa mas também estou muito feliz com isso. E vou tocar uma versão do tema 'O Navio Dela', do Manel Cruz, que há pouco tempo partilhei no Instagram. Estou muito contente com os músicos que me vão acompanhar. Estou muito feliz por poder interagir com eles no palco. O "Vamos Conversar" também é uma conversa com os músicos. Eles falam com os instrumentos que levam. Ajudam-me na conversa. Acho que vai ser um concerto muito bonito.  

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Atualizado a 20 de julho.

Redação

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